História 17
Quando nós éramos pequenas - somos três irmãs hoje já com mais de meio
século - nosso pai nos contava histórias para chamar o sono. Lembro-me que
uma das que mais gostávamos era a do Saci Pererê, um moleque negrinho, de
uma perna só, gorro vermelho e cachimbo na boca, como meu pai descrevia. Não
sei se ele leu, acho difícil, ou se ouviu de seus pais a história, mas
contava com toda a seriedade que um bom causo merece.

Dizia que o o Saci aparecia para as pessoas que percorriam os caminhos das
fazendas durante a noite. Era um moleque brincalhão que gotava de pregar
peças, mas não fazia mal a ninguém. Esperava o desavisado caminhante
escondido na mata e quando ele aparecia, saltava-lhe à frente pedindo fumo
para seu cachimbo.

Se a pessoa atendia-lhe o pedido, ia embora girando e pulando todo feliz.
Caso contrário causava algum transtorno ao indivíduo, trançando as crinas e
caudas dos cavalos de sua propriedade.

Na inocência de nossa infância observávamos à noite, temerosas, o mato perto
de casa, em plena São Paulo, e ao menor movimento nos  imaginávamos em
apuros, pois se o Saci aparecesse,  não teríamos o fumo para seu cachimbo.
Acho que nem sabíamos direito o que era fumo para cachimbo.
 

Lidia Walder
 

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