Quando nós
éramos pequenas - somos três irmãs hoje já com mais de
meio
século - nosso pai nos contava histórias para chamar o
sono. Lembro-me que
uma das que mais gostávamos era a do Saci Pererê, um
moleque negrinho, de
uma perna só, gorro vermelho e cachimbo na boca, como
meu pai descrevia. Não
sei se ele leu, acho difícil, ou se ouviu de seus pais a
história, mas
contava com toda a seriedade que um bom causo merece.
Dizia que o o Saci aparecia para as pessoas que
percorriam os caminhos das
fazendas durante a noite. Era um moleque brincalhão que
gotava de pregar
peças, mas não fazia mal a ninguém. Esperava o
desavisado caminhante
escondido na mata e quando ele aparecia, saltava-lhe à
frente pedindo fumo
para seu cachimbo.
Se a pessoa atendia-lhe o pedido, ia embora girando e
pulando todo feliz.
Caso contrário causava algum transtorno ao indivíduo,
trançando as crinas e
caudas dos cavalos de sua propriedade.
Na inocência de nossa infância observávamos à noite,
temerosas, o mato perto
de casa, em plena São Paulo, e ao menor movimento nos
imaginávamos em
apuros, pois se o Saci aparecesse, não teríamos o fumo
para seu cachimbo.
Acho que nem sabíamos direito o que era fumo para
cachimbo.
Lidia Walder
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